Isenção versus exactidão
«Existe uma diferença fundamental entre isenção e exatidão. A primeira é sempre relativa a uma circunstância ou conjuntura. É um conceito relacional porque implica a referência a um facto, pessoa ou evento, por exemplo. Já a exatidão é factual e concreta, logo não pode ser adaptada a circunstâncias. Entre os profissionais do jornalismo está ganhando corpo uma controvérsia sobre o que é mais importante na conjuntura atual: a fidelidade factual ou a isenção política» — esta a dicotomia que o jornalista brasileiro Carlos Castilho destaca numa edição do Observatório da Imprensa. Em boa verdade, é um dilema com que os jornalistas deparam há muito tempo, mas a revolução tecnológica das últimas décadas transferiu o centro de gravidade do conflito do âmbito estritamente profissional para o conjunto da sociedade e as suas crescentes e complexas contradições.
«O problema», lembra Castilho, «é que os valores do jornalismo estão sofrendo o impacto das mudanças que atingem toda a área da informação e da comunicação, como parte do conjunto de transformações sociais, económicas, culturais e políticas pelas quais o mundo está passando. Não dá para dissociar a profissão do ambiente que a cerca, porque o jornalismo tem uma função insubstituível na dinâmica social contemporânea.»
Seria cómodo para o jornalista poder dizer, parafraseando Sartre, “posso escolher não escolher”. A dificuldade é que a escolha já não depende só de si. Como observa Carlos Castilho, «o jornalismo está sendo levado, mais uma vez, a fazer uma escolha entre adotar o princípio democrático na produção de notícias ou deixar-se envolver pela ilusão de que é possível ser isento numa conjuntura polarizada.»
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