“A sua filha foi baleada muitas vezes?”
Nem queria acreditar quando, na passada quinta-feira, na SIC, ouvi Júlia Pinheiro formular a pergunta a uma francesa, Patrícia Correia, cuja filha foi morta no ataque terrorista à sala parisiense de espectáculos Bataclan, em Novembro de 2015. Précilia Correia, filha de Patrícia e de um português, foi uma das inúmeras vítimas do ataque jihadista à referida sala de espectáculos.
Júlia avisara logo no início: “A história seguinte não tem solução e é de cortar o coração”. O programa incluiu uma entrevista à mãe em causa no cemitério do Prazeres, onde a jovem foi sepultada, e levou Júlia a exclamar, quase no final: “Oh, Patrícia, qua azar tão grande! É terrível, terrível, terrível”… (Waldemar Abreu)
O programa “Júlia”, do passado dia 18, incluiu, ainda, uma entrevista a Sara Norte e a uma mulher, Maria do Céu, que, aos 42 anos, está a ficar cega e tem uma vida pessoal complicada, com várias tragédias associadas e filhos de várias relações. “Ai, Maria do Céu -diz Júlia Pinheiro- estou aqui impressionadíssima consigo (…) parece que há aqui um destino fatal, vocês têm um destino muito marcado pela doença – um irmão invisual, outra irmã que morreu, não é?” Aproveita para lhe estender um lenço descartável, extraído de um recipiente colocado estrategicamente entre ela e os convidados, para lhes amparar as lágrimas. E lança para a irmã da entrevistada, presente no estúdio: “Confirma que ela é uma menina triste?”
O recipiente para os lenços já tinha sido necessário na entrevista anterior, a Sara Norte, a cuja família também tinha detectado “algo muito pesado no vosso destino”.
O que me levou ao “Júlia” foi o “Goucha”, na TVI ,que “picara” acidentalmente, mas ao qual fiquei grudado quando dei por ele a perguntar a um médico de 43 anos que sofre de fibrose quística “o que é que sente?”, imediatamente após salientar que esperança de média de vida daquele tipo de pacientes é de 40 anos… Logo a seguir entrevista uma jovem, Beatriz, de 24 anos, igualmente com fibrose quística. Uma verdadeira força da natureza, mas Goucha também quer ver lágrimas. Não resiste a atirar-lhe a esperança de vida limitada, ao que ela responde: “São apenas médias!” Goucha não desarma: “Mas a sua voz tremeu agora. Posso perguntar porquê?” Ela remata para canto, mas ele insiste “A voz tremeu. Há aí alguma tristeza dentro?”
Programas como “Júlia” e “Goucha” ajudam a explicar o altíssimo consumo de antidepressivos por parte dos portugueses. São dirigidos aos mais idosos, aos mais frágeis. Até a publicidade mete dó. E há um anúncio do Goucha num intervalo do programa da Júlia. Vale tudo.
Faz-me impressão ver a Júlia Pinheiro naqueles preparos. Gaita, ó Júlia, mas que enorme pepineira! Quanto ao “Goucha”, a Beatriz, muito comunicativa e expressiva, daria uma excelente apresentadora do programa.
Carla Castelo, ex-jornalista da SIC, decidiu candidatar-se à presidência da Câmara de Oeiras. Daria uma extraordinária presidente de câmara.
Waldemar Abreu ~”Jornal de Barcelos” 24 março 2021
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