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Emídio Rangel para São Pedro: «Vamos fazer uma rádio aqui?»

14 de Agosto de 2014


O desaparecimento prematuro de Emídio Rangel, neste dia 13 de Agosto de 2014, é uma notícia que, embora esperada por quem sabia do cancro que o minava, não pode deixar de fazer pensar em como a vida é madrasta para muitos dos que se distinguem da mediania.
Conheci-o mais de perto nos tempos excitantes (diria até heróicos) do lançamento da TSF Rádio Jornal, em 1989 — a partir de uma “rádio pirata”, fundada um ano antes, inspirada na famosa Radio Caroline —, numa época em que, em Portugal, quase não havia operadores privados de radiodifusão.
Desde sempre me habituei a considerá-lo um jornalista de excepção, multifacetado e imaginativo, sempre a coleccionar ideias para tudo e mais alguma coisa, num caderno de notas tipo filofax com capa dura, que nunca abandonava.
Como primeiro presidente do CA da Rádio Jornal, SA, onde ele começou por ser director-geral e sua alma inspiradora, competia-me tentar travar alguns dos seus excessos, em nome da sustentabilidade da empresa, mas confesso que raramente tive êxito nessa tarefa, tal era a paixão que ele punha na construção da TSF estação de rádio, como se a emprea e a estação fossem coisas distintas…
[Ainda não se ia “até ao fim da rua, ou até ao fim do mundo”, mas para lá se caminhava].
Diz o Carlos Vaz Marques que Rangel era “exuberantemente humano e tinha orgulho nisso” e eu acrescento que, naturalmente, também tinha defeitos pessoais, que não devem ser negados, mas também não sublinhados nesta hora de despedida. Era, afinal, um ser humano que calhou ser bafejado por facetas de talento incomuns no domínio profissional, como ficou patente na criação da TSF e, mais tarde, na SIC.
Agora que partiu, ocorre-me fazer um paralelo com uma história, sob a forma de “cartoon”, publicada aquando da morte de Steve Jobs, em que o fundador da Apple se apresentava diante de São Pedro com um iPad na mão.
Se houver São Pedro, e se o Emídio Rangel lhe for apresentado, certamente lhe exibirá um microfone da TSF, procurando convencê-lo a deixá-lo fundar, por essas bandas, uma rádio (e uma televisão, já agora…).
E acho que o tal São Pedro não vai resistir-lhe…

José Silva Pinto

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