Discurso do presidente do Clube de Jornalistas
Senhor Presidente da República, – caro Professor Marcelo Rebelo de Sousa,
O Clube de Jornalistas conta 33 anos de vida e a primeira edição dos Prémios Gazeta aconteceu há 32. De então para cá, a entrega dos prémios mereceu a presença de quatro presidentes da República (Ramalho Eanes, Mário Soares, Jorge Sampaio e Cavaco Silva) e muito nos honrou tê-los connosco. Desta vez, permitimo-nos saudá-lo, Senhor Presidente, acrescentando um motivo de satisfação de vermos, na mesma pessoa, o Presidente da República Portuguesa e alguém que praticou e enobreceu o jornalismo. É dos nossos!
Senhor Presidente do Conselho de Administração e senhores Administradores da Caixa Geral de Depósitos,
Sem o patrocínio e a franca adesão da Caixa, dificilmente nos seria possível manter os Prémios Gazeta – a mais significativa distinção no quadro do jornalismo português. Agradecemos à instituição e suas administrações anteriores (do engenheiro Faria de Oliveira e do Dr. José de Matos) – e muito nos alegrou receber da vossa parte a confirmação da cerimónia que hoje nos reúne. Bem hajam. Desejamos – e esperamos – que nos voltemos a juntar daqui a um ano…
Caros premiados (ao fim e ao cabo as figuras centrais desta festa)
Companheiros membros do júri…
Dirigentes de instituições ligadas ao jornalismo…
Senhoras e senhores convidados:
Cumpre-me tecer algumas considerações acerca do ponto em que nos encontramos nesta actividade, exigente mas exaltante, que é o jornalismo. Serei breve. Prometo.
Há dias, a médica da Casa da Imprensa, Dra. Arlete, prescreveu-me uns medicamentos – e fiquei à espera: – E o papel? A receita?
– Já não é preciso papel, a receita está no teu telémovel!
– Já não é preciso papel?… Ao meu assombro juntou-se de imediato, um alarme: Ai os meus queridos jornais!!
Recentemente, em 2015, foram publicados dois livros que são valiosos contributos para a história do jornalismo português: “O grande jornalzinho da Rua dos Calafates”, de Pedro Foyos, e “Parem as máquinas”, de Gonçalo Pereira Rosa. São duas obras preciosas que nos conduzem a épocas esforçadas e românticas, sem internets nem telemóveis – mas com tipógrafos de quem fui amigo e ardinas, que ainda existiam nesse meu tempo de rapaz dos jornais… Tempos difíceis mas gloriosos dos jornais de papel…
Reuniram-se agora, em Lisboa, mais de 50 mil especialistas desses malabarismos mentais que produzem e utilizam pós-modernas tecnologias. Lá se falou da comunicação à velocidade da luz. Pode ter acontecido, mas não me dei conta de que alguém desse um papel.
Vem aí o tinteiro – um futuro a seguir a este que não tarda a ser passado. Sucedem-se as novidades. O grande salto aconteceu há quatro décadas com alterações profundas no exercício da profissão. Então, os velhos jornalistas tiveram de se adaptar às engenharias triunfantes e passaram a desempenhar múltiplas funções.
Neste ponto nos encontramos. Dias de vertiginosas mudanças que não podem abalar o essencial da profissão do jornalista: a credibilidade e o benefício público.
Para um bom desempenho, importa que as redacções, em vez de emagrecerem, disponham de jornalistas suficientes para trabalhar sem afogadilhos – inimigos da ponderação e do rigor. E é necessário conceder tempo e meios para reportagens que vão mais fundo que a espuma das ondas de cada dia.
Tal como é necessário que os jornalistas se orgulhem da sua missão – orgulho que não se prende com a notoriedade pessoal, mas sim com a consciência de que exercem uma actividade nobre e responsável.
Apesar dos pesares, continuamos a ter em Portugal jornalismo de primeira água. Bons exemplos são os premiados de hoje – e tantos outros profissionais que nos brindam com magníficos trabalhos, incluindo na progressiva Imprensa Regional.
Este velho jornalista que eu sou, persistente leitor, espectador e ouvinte da informação, incentiva as novas gerações – e só faz um pedido: Por favor, não deixem morrer os jornais de papel!