Discurso do Presidente da República
Eu queria, antes de mais, agradecer ao senhor presidente da Caixa Geral de Depósitos, o receber-nos como anfitrião e elogiar o papel da Caixa ao compreender a importância destes Prémios e ao longo dos tempos os apoiar. É uma forma inteligente, determinada e aberta de apoiar aquilo que é muito importante e constitui um dos cernes da democracia no nosso País.
Depois, queria cumprimentar, na pessoa do senhor presidente do Clube de Jornalistas, alguém que é uma referência sempre rejuvenescida e que representa bem aquilo que foi a ideia que presidiu ao nascimento deste Clube, que é a razão de ser da sua existência. Um Clube que, mais do que uma mera junção de jornalistas, é uma voz da consciência jornalística na sociedade portuguesa.
Muitos parabéns pelos Prémios porque também aí há muita persistência e há uma capacidade de olhar para a realidade que somos, para a comunidade que formamos e de exercer pedagogia nela, de exercer pedagogia cívica nela.
Depois queria saudar todos os premiados, desde a Revelação, Sibila Lind, à Fotografia com Pete Brix, à Rádio com a Rita Colaço, à Multimédia com a Catarina Santos, à Imprensa com o Ricardo J. Rodrigues, à Televisão com a Sofia Leite, à Imprensa Regional com o semanário “Reconquista”. Todos estão de parabéns porque demonstraram um talento, um mérito que não é apenas a exercitação de uma vocação pessoal, é a demonstração de uma vocação comunitária. E permitam-me que sublinhe de forma muito particular sem desprimor para todos os demais, o Vicente Jorge Silva, porque se todos os outros acompanho ou acompanhei no seu percurso justificativo do Prémio, o Vicente, como ele aliás se encarregou de recordar, tem uma carreira que eu acompanho desde a minha adolescência, no “Comércio do Funchal”, na luta contra a ditadura… Num contexto muito difícil e feita essa luta de uma maneira muito inteligente, muito inteligente e muito heterodoxa, bem traço da maneira de ser criativa e inventiva do Vicente Jorge Silva. E depois fomos companheiros de percurso no “Expresso” muitos anos. Eu aprendi muito com o Vicente Jorge Silva, ajudei-o algumas vezes e talvez a maior ajuda tenha sido a criação da revista, que foi um outro jornal dentro do “Expresso” antes de passar a ser um projecto que se autonomizaria, para depois voar e no pleno da sua carreira dar origem ao “Público”.
O Vicente é o exemplo daquilo que eu ouvi dito a várias vozes por todos os premiados: de liberdade, não se é um grande jornalista não se sendo livre; de independência e inconformismo, não se é um grande jornalista sem ser independente e inconformista; de criatividade, não se é um grande jornalista sem se ser criativo; de luta por causas, não se é um grande jornalista, sem se lutar por causas; de vivência da Comunicação Social por dentro e por fora, e do País por dentro e por fora, não se é um grande jornalista não sendo capaz de fazer essa experiência, de viver a Comunicação Social, e em sentido mais amplo o País, por dentro e por fora.
Ouvi aqui várias intervenções que me provocaram brevemente algumas reflexões complementares. A primeira de saudade. De saudade — quem não tem saudade da sua juventude? — e eu senti uma enorme saudade de 1965, quando escrevi o meu primeiro artigo na imprensa escrita, ou então de 1972, quando iniciei a aventura do “Expresso”, ou então de 1993, quando encetei a aventura na Rádio, na TSF, ou então 2000, quando abri caminho para a experiência na Televisão. Nunca tendo sido jornalista, acompanhei por dentro o que era ser-se jornalista. Não tive o talento de ser jornalista, mas estive muito próximo de quem demonstrou esse talento e sinto nesta reunião, nestes Prémios, neste encontro, neste jantar, uma ideia antes do mais de resistência, resistência no bom sentido do termo e é bom que haja quem resista na defesa da liberdade, na defesa da democracia, na defesa da dignidade do estatuto de Jornalista, na defesa da independência perante uma situação económica e financeira particularmente difícil no mundo dos meios da comunicação clássicos.
E essa resistência é salutar porque é completada por uma outra dimensão que é a visão de futuro. Também aqui encontrei uma visão de futuro, não apenas pela juventude de premiadas e premiados, mas porque acreditam no futuro. E é esse acreditar no futuro que supera a angústia com o digital. Há lugar para para o jornalismo. Há lugar para o jornalismo, com os novos meios de Comunicação Social, com o universo que muda a ritmo acelerado. Há lugar para o jornalismo e depois a paixão — dizia o senhor presidente da Caixa, baixinho, em relação a uma intervenção, mas é a intervenção mais poética de todas. Logo a seguir veio uma intervenção que, não sendo poética, foi também de reflexão profunda sobre o que é ser jornalista hoje. Perpassou tudo o que aqui foi dito – paixão. O ser-se jornalista é ter a paixão de ser jornalista e de não servir um projecto pessoal e nem sequer de grupo, mas sim servir-se um projecto comunitário porque é o servir-se um conjunto de princípos que são fudamentais para vivermos numa sociedade democrática e livre. E por isso eu, que já sou um optimista ou não fosse professor (provocação), e não tivesse sido alguém que partilhou com os jornalistas a capacidade de entender o que eles mostram de talento ao serviço dos outros, eu saio daqui hoje mais optimista Saio cidadão e saio Presidente da República, porque é bom para Portugal que haja mais liberdade, mais democracia, mais respeito pelo papel dos jornalistas, nem que isso custe, e custa inevitavelmente, a quem exerce os mais diversos poderes do Mundo, a começar no poder político, a começar na magistratura mais responsável. É um preço, é o preço da democracia, mas é que nós sabemos, para voltar àquilo que é a frase mais repetida do mundo, que a pior das democracias é sempre melhor do que a melhor das ditaduras e, como aqui foi recordado, num tempo de intolerância, num tempo de xenofobia, às vezes de racismo, muitas vezes de populismo, isto é, de irracional ou de emotivo a prevalecer sobre o racional, de egocêntrico a prevalecer sobre o comunitário, é bom haver prémios como estes, que são razão para mais optimismo, a pensar em princípios que são fundamentais para todos, mas que são fundamentais também para Portugal.
Muito obrigado