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Prémio Daphne Caruana Galizia para investigação sobre mortes no Mediterrâneo

17 de Outubro de 2023


Clube de Jornalistas integra o júri internacional independente deste Prémio atribuído desde 2021 pelo Parlamento Europeu, que visa distinguir o jornalismo de investigação de excelência, honrando a memória da jornalista maltesa assassinada em 2017.

Um consórcio grego, alemão e britânico venceu a terceira edição do Prémio Daphne Caruana Galizia pela investigação relativa ao naufrágio do navio Adriana, que causou a morte a mais de 600 migrantes ao largo de Pilos, na Grécia.

A investigação conjunta do jornal de investigação grego Solomon, em colaboração com a empresa Forensis, a emissora pública alemã StrgF/ARD e o jornal britânico The Guardian revelou como o naufrágio de migrantes mais mortífero da história recente aconteceu em resultado das ações tomadas pela guarda costeira grega.

Roberta Metsola, Presidente do Parlamento Europeu, Pina Picierno, Vice-Presidente responsável pelo Prémio, e Juliane Hielscher, Presidente do Clube de Imprensa de Berlim e representante dos 28 membros europeus do Júri independente, participaram na cerimónia de entrega de prémios realizada a 16 de outubro na Sala de Imprensa do Parlamento Europeu, em Estrasburgo, que tem precisamente o nome de Daphne Caruana Galizia.

A Presidente Metsola afirmou: “Hoje, como todos os anos, honramos a memória de Daphne Caruana Galizia com um prémio que é um lembrete poderoso da sua luta pela verdade e pela justiça. Jornalistas de todo o mundo continuam a ser alvos apenas por fazerem o seu trabalho, e não podem ser silenciados. Este Parlamento está ao seu lado nesta batalha para salvaguardar a liberdade de imprensa e o pluralismo dos meios de comunicação social na Europa, e fora dela”.

Entre 3 de maio e 31 de julho de 2023, mais de 700 jornalistas submeteram as suas histórias para apreciação do júri, composto por profissionais independentes dos 27 países da UE (Patrícia Fonseca, do Clube de Jornalistas, voltou este ano a ser a representante portuguesa).

Dos quase 300 trabalhos a concurso foram encontrados 11 finalistas e, entre esses, foi votado o vencedor. Entre os finalistas esteve uma reportagem portuguesa: “Quando o Ódio Veste Farda”, de Pedro Coelho, Filipe Teles e João Venda, com Paulo Pena, Cláudia Marques Santos e Ricardo Cabral Fernandes.

Sobre o trabalho vencedor

A investigação analisou em profundidade os acontecimentos que rodearam o naufrágio do arrastão de pesca Adriana, em 14 de junho de 2022, a cerca de 50 milhas náuticas de Pylos, no sudoeste da Grécia, matando mais de 600 migrantes que tinham deixado a Líbia alguns dias antes.

Mais de 20 entrevistas foram feitas com sobreviventes e documentos judiciais e fontes da guarda costeira foram analisados. As conclusões detalham oportunidades de resgate perdidas e ofertas de assistência que foram ignoradas, enquanto os testemunhos dos sobreviventes indicam que foram as tentativas da guarda costeira grega de rebocar o arrastão que acabaram por causar o seu naufrágio.

A noite fatídica foi simulada pela Forensis usando modelos 3D interativos da traineira graças a dados do diário de bordo da guarda costeira e ao depoimento do capitão do navio, bem como de rotas de voo, dados de tráfego marítimo, imagens de satélite e vídeos feitos por navios próximos.

O consórcio responsável pela investigação foi formado pelos seguintes profissionais:

Salomon – Stavros Malichudis, Iliana Papangeli, Corina Petridi

Forensis – Stefanos Levidis, Christina Varvia, Georgia Skartadou, Andreas Makas, Ebrahem Farooqui, Dimitra Andritsou, Peter Polack, Eyal Weizman, Jasper Humpert, Miriam Rainer, Salma Barakat, Zac Ioannidis, Elizabeth Breiner

StrgF/ARD – Armin Ghassim, Sulaiman Tadmory, Timo Robben, Sebastian Heidelberger

The Guardian – Giorgos Christides, Katy Fallon, Lydia Emmanouilidou e Julian Busch

Sobre o Prémio

O Prémio Daphne Caruana foi lançado em dezembro de 2019 por decisão da Mesa do Parlamento Europeu, em homenagem a Daphne Caruana Galizia, jornalista de investigação anticorrupção e blogger maltesa que foi assassinada num atentado com um carro armadilhado em 2017.

O Prémio recompensa anualmente (no aniversário do assassinato de Daphne Caruana Galizia) o jornalismo de excelência, que promova ou defenda os princípios fundamentais da União Europeia, tais como a dignidade humana, a liberdade, a democracia, a igualdade, o Estado de direito e os direitos humanos.

Podem candidatar-se jornalistas profissionais ou equipas de jornalistas profissionais de qualquer nacionalidade, apresentando artigos de fundo publicados ou difundidos nos meios de comunicação social, sediados num dos 27 Estados-Membros da União Europeia. O objetivo é apoiar e destacar a importância do jornalismo profissional na salvaguarda da liberdade, da igualdade e da oportunidade.

O júri independente é composto por representantes da imprensa e da sociedade civil dos 27 Estados‑Membros, bem como das principais associações de jornalismo europeias.

O Prémio, no valor de 20 mil euros, pretende demonstrar o apoio do Parlamento Europeu ao jornalismo de investigação e a uma imprensa livre.

Em 2021, o Prémio de Jornalismo Daphne Caruana Galizia foi atribuído aos jornalistas do consórcio Forbidden Stories, responsável pelo Projeto Pegasus, um trabalho que envolveu mais de 80 jornalistas de 17 jornais em 10 países (entre eles o Guardian e o Washington Post), provando que os telefones de mais de 200 jornalistas, 14 chefes de Estado e dezenas de figuras políticas eram espiados por países e multinacionais usando tecnologia (spyware) da empresa israelita NSO.

Em 2022, foram distinguidos os jornalistas Clément Di Roma e Carol Valade pelo documentário “República Centro-Africana: a capacidade de influência russa”, uma coprodução Découpages/Arte GEIE, originalmente transmitido no programa Arte Reportage em francês, alemão e inglês. Foi também difundido no canal France 24 e publicado no Le Monde.

Quem era Daphne Caruana Galizia?

Daphne Caruana Galizia foi uma jornalista, blogger e ativista anticorrupção maltesa cujo trabalho jornalístico se centrava na corrupção, no branqueamento de capitais, na criminalidade organizada, na venda de cidadania e nas ligações do governo maltês aos Panama Papers. Depois de alguns episódios de assédio e ameaças, foi assassinada na explosão de um carro armadilhado em 16 de outubro de 2017. Os protestos relativos à investigação do seu homicídio pelas autoridades acabaram por levar à demissão do primeiro-ministro maltês, Joseph Muscat.

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